quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Arte poética - Poesiarte


"A arte é a auto-expressão
lutando para ser absoluta"
Fernando Pessoa
Um grito libertário
se eleva do interior
irrompendo com angústia
quebrando as correntes
desnudando a verdade
virando o homem do avesso.

Urro desesperado
a ejacular sangue
pinta na tela universal
a real existência
e inventa a perfeição.

Facas de luz
cortam
a máscara sombria.

O poema
recita o poeta.

Flávio Soares

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

A morte lenta da Terra

Uma melancolia afagou a natureza
na praia
um cemitério de flores
rejeitadas pelo mar
entristece a existência
suas pétalas
são carregadas pelo vento
que já não vê sentido
em soprar.

Árvores desfolham-se
ao canto fúnebre dos pássaros.

Flávio Soares

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Efeito de alienação

Capítulo 4
Manhã de quarta-feira. Comi dois pães com manteiga, tomei um café amargo e saí. A princípio não tinha um lugar definido para ir. Queria andar pela cidade sem preocupação alguma, mas lembrei das razões de minha volta a Mauá. Deixei o carro na garagem. Há tempos não andava a pé. Fiz uma caminhada até a casa de Ricardo, ele morava longe, num bairro de difícil acesso que tinha muitos matos e poucas ruas asfaltadas. Demorei quase uma hora para chegar lá. Durante esse tempo, reparei nas mudanças que a cidade tivera enquanto estive em São Paulo. Ela estava mais populosa, mais tarde conheci o porquê, todos os dias dezenas de pessoas, a maioria nordestinos e mineiros, desembarcavam na estação ferroviária. As calçadas, congestionadas de gente, pareciam formigueiros. Nas ruas, carros passavam incessantemente urrando como animais ferozes. O barulho era infernal. Não pude crer que essa era a cidadezinha calma de minha infância e adolescência. Parecia um moleque ingênuo que vivia apanhando dos valentões da turma e ao crescer, virou um desgosto para a sociedade. No céu, nenhum pássaro, só fumaça.

Cheguei esbaforido à vizinhança onde meu amigo residia, pois estava desacostumado a exercícios físicos. As casas estavam do mesmo jeito, antigas e belas. Pelo som ensurdecedor que saia de uma delas, conclui que meu camarada estava de folga, porque ninguém ali ouviria Rolling Stones tão alto. Parei em frente ao portão, toquei a campainha, bati palmas, gritei, mas não fui atendido. Então resolvi entrar. A porta estava destrancada, logo que adentrei a casa me assombrei com um cheiro forte de incenso. Subi uma escada que dava ao quarto de Ricardo. Ele estava sentado numa poltrona, sem camisa e fumando um cigarro. Quando apareci em sua frente o cara quase teve um treco.


- Caramba, Jonas! O que você faz aqui?


- Peguei uns dias de folga e resolvi matar minhas saudades. – claro que não era só isso, mas achava prudente manter segredo sobre minhas intenções em Mauá. – Como esse bairro resiste à evolução? É incrível as ruas ainda serem de barro, cara.


- Pois saiba que eu adoro isso. Não me dou muito bem com o progresso. Gosto de viver aqui sem ter muita gente pra ver nas ruas, ouvindo meu rock ‘n’ roll e consertando carros, coisa que amo.


Ele abaixou o som para conversarmos melhor. Perguntou-me sobre minha vida e eu perguntei sobre a dele. Relembramos nosso passado. Recontamos algumas histórias. Então me convidou para ir a um bar tomar uma cerveja. Um calor nordestino cremava a cidade naquele dia, não tinha como recusar o convite.


No bar, reencontrei outros conhecidos. Enquanto alguns vieram até mim e apertaram minha mão, outros só acenaram de longe, ou por estarem sem jeito de falar comigo, ou por falta de assunto. Em poucos minutos havia se formado um grupo de seis homens. Bebíamos como se fosse uma noite de sexta-feira. Falávamos de tudo, desde futebol a sexo. Recordamos acontecimentos engraçados do bairro e da escola. Rimos demais. Porém, uma coisa me perturbava. E Elder? Eu esperei um deles tocar no assunto, mas não disseram nada. E quando percebi que eles não falariam nada a respeito disso, cometi a besteira de quebrar o clima com uma pergunta:


- E o Elder? Alguém se lembra dele?


Fingiram não terem me ouvido, mudaram de assunto e aos poucos saíram um por um, restando apenas Ricardo e eu. Ele estava de cabeça baixa, calado. Senti-me envergonhado, bebi meu copo de uma vez e dirigi-me ao caixa para pagar a conta. Quando voltei à mesa, Ricardo já partira. Isso me deixou pensativo.


Flávio Soares

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Um pedido de desculpas

A falta de você
me fez romântico
e agora leio Álvarez de Azevedo
como quem lê a bíblia.
Se eu fosse um pintor
a pintaria Deusa
descendo do céu num raio de luz
pra me dar a redenção.
Te amo com fervor religioso
mas na condição humana
lhe sou imperfeito.

Explode em mim
a tristeza de amar uma Deusa.

Flávio Soares

domingo, 30 de novembro de 2008

Numa hora qualquer

Sentado num banco de praça
o tempo fuça em sua ampulheta
como um menino
que desmonta e remonta um brinquedo.
Tudo acontece sem significado
os minutos se revezam
numa monotonia mortal.

O tédio
é deprimente.

Flávio Soares

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Viagem delirante

Um poeta se perdeu na paisagem
de um romance épico que lia
galopava pelos prados
ao som da natureza
pensava ser um cavaleiro
a serviço d'el rei.
Como numa bruxaria
as palavras o enfeitiçaram
folheava o livro
feito quem dedilha uma lira
e a história tornou-se seu calabouço.

Na torre do castelo havia uma princesa
de lábios intocados
a entoar cantigas medievais
tal qual o trovador apaixonado
num platonismo angustiante
o homem poetizava
a cada capítulo lido.

Ficava a virgem cantando ao vento
esperando por um príncipe
que nunca vinha
sua voz lamuriosa
hipnotizou o leitor enamorado
como um timbre de sereia.

De tanto esperar ficou demente
e seu canto tão melancólico
que o leitor se abateu.
Ela definhava
a vida dele minava em lágrimas
ela se atirou da torre
ele sentiu-a pular do livro.
Não havia mais páginas para virar
só a contracapa em branco
onde escreveu um poema
no qual morria ao lado dela.

Morre a donzela de tristeza
morre o poeta fundido à história.

Flávio Soares

Poema vencedor do V concurso de poesia realizado na Universidade do Grande ABC em novembro de 2008.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Efeito de alienação

Capítulo 2


A modernidade é impressionante. Há anos não pisava em Mauá, de repente em pouco mais de três horas, fui até lá, conversei com Dona Estela e voltei pra casa, graças a uma coisa chamada carro a motor. Se fosse no século dezenove, eu demoraria dias para fazer essa viagem a cavalo. Poderia ter visitado Ricardo, mas não me lembrei disso enquanto estava lá, nem reparei na cidade, pois abalado, a única coisa que queria era conferir a notícia do falecimento de meu amigo.

Entrei em casa correndo e liguei a câmera. Continuei de onde havia parado quando a desliguei. Elder começou a falar:
“Meu nome é Elder, e devido ao meu fanatismo pelo rock’n’roll todos que me conhecem me chamam de Elder Presley. Desde minha adolescência sempre sonhei em ser um rock star. Me envolvi demais com o movimento rockeiro. Tive até uma banda que acabou quando meu amigo Jonas resolveu ser responsável e se mudou para São Paulo a fim de estudar e trabalhar. Ainda me lembro das roconhas que fazíamos nos velhos tempos, éramos loucos.”

Ele parou de falar por uns minutos para tragar seu baseado. Fumou tudo numa tragada só. Depois virou a garrafa de conhaque e se levantou. Foi até a cômoda e pegou algo na gaveta. Era cocaína. Espalhou num prato e cheirou uma quantidade mortal. Daí abriu outro conhaque e continuou a falar, já com voz mole e de um jeito quase intraduzível:
“Meus amigos sempre me diziam para tomar cuidado senão eu acabaria como meus ídolos, morto com uma overdose. Nunca liguei pra isso, porque apesar de tudo sempre me cuidei, pois pretendia viver bastante. Eu pedia para não se preocuparem comigo que aquilo nunca aconteceria, até que conheci Raquel...”

De repente, deitou-se na cama. Pronunciou mais algumas palavras que não pude entender e uma convulsão o atacou. Foi horrível assistir aquilo. Durou cerca de cinco minutos. Depois seu corpo ficou paralisado por uns instantes. Pensei que tinha morrido, mas ainda pronunciou: “Raquel... Raquel... Raquel...”. A gravação continua por mais quinze minutos. E durante esse tempo ele não se mexe. Foi-se.

Fiquei chocado. Ele não morreu de overdose, se suicidou com uma overdose. Pensei um pouco. Conclui que não seria bom contar a respeito dessa gravação pra ninguém, principalmente para Dona Estela. Mas decidi que descobriria por que ele fez isso. E naquele momento uma pergunta me perturbava. Quem era Raquel? Resolvi descobrir. Parecia ser o motivo de tudo. Senti que voltaria a Mauá.

Flávio Soares

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

O velho

Lá vai um quase-século na estrada
carregando o acúmulo
de uma existência
mais atrás
a espreitar-lhe
segue-o a morte
com a negra túnica roçando o chão
amolando sua foice.

Flávio Soares

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

O coleirinha

Há um coleirinha no telhado
cantando como se fosse
o último do mundo
tão dolente é seu canto
parece que vai morrer.

Através da janela
vejo os carros
urrarem na avenida
as pessoas na calçada
não ouvem o pássaro
que não pára de cantar
só os cães acorrentados
atentam ao prenúncio.

Eu tiro uma foto dele
e o mantenho salvo para sempre.

Flávio Soares

terça-feira, 28 de outubro de 2008

O poema que Fanny não leu

"É só um grande homem em grego"
Eça de Queiróz


Exilado em um gelado inferno
através duma janela de hotel
Korriscoso vê o mundo
vestir a neve.

Causa tristeza vê-lo...

Príncipe ateniense
transformado em criado
à espera do ósculo libertador
da Afrodite inglesa
infeliz,
chora odes.

Os cabelos louros de Fanny
tingem de luz
a escuridão de sua melancolia
o alfabeto grego
inunda o guardanapo
os gentlemen que o vêem
penando pelo Charing Cross
não imaginam seu lirismo.

E Fanny fantasia um Adônis
num Ares inglês.

Flávio Soares

domingo, 26 de outubro de 2008

O corpo dela

Seu corpo belo nu e florescido
iluminado pela luz lunar
me faz um fogo tão estremecido
mais perigoso que o calor solar.

E sobre a cama quando adormecido
me incita a versos de se arrepiar
que eu os escrevo em transe enlouquecido
apetecido por a contemplar.

Sedento, sinto a carne alvoroçada
a pele ardente por brasa tomada
fico enlevado na doce visão

do corpo dela ali me provocando
me seduzindo pra matar-me então
de só viver a ela desejando.

Flávio Soares

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

A perda da inocência

Tempo saudoso em que feliz vivia
num conto belo de alegrias mil
na vida minha o meu ser nunca via
sórdido mundo, essa verdade vil.

Na minha mente poesia havia
junto c'um céu de cor azul anil
minha visão era uma fantasia
como se fosse neve no Brasil.

Mas só que hoje o que restou de mim
são restos pútridos dum ser humano
sou este homem que aqui está se lendo.

Que se desfaz na mente atrás do fim
de não viver a vida em desengano.
Abri meus olhos. Mas que mundo horrendo!

Flávio Soares

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

A primavera do século XXI

A primavera despiu-se
devido ao forte calor de sua beleza
uma falsa beleza.
O seu florido suor
banha a fatigada face da terra
de semblante agonizante
e dissimuladamente
a primavera sorri.
Uma flor nasce no asfalto
tão bonita e esquisita
mas instantaneamente tomba
em fatais espasmos de dor
cancerosa em suas pétalas.

Chorem aqueles
que já foram tão belos um dia
e que hoje encaram os espelhos de olhos vendados
e rezem pela primavera
esse cadáver que recusou-se a ser enterrado
e preferiu ser cremado
nos venenosos raios solares
e ter suas cinzas espalhadas no ar
que os tufões sempre levam
pra passear na fumaça.
Flávio Soares

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Efeito de alienação

Capítulo 1


Acordei com o toque do meu celular. Desliguei-o e nem quis saber quem era. Fiquei na cama por mais alguns minutos. Além de ser um domingo, ainda eram sete horas da manhã e queria dormir até meio-dia. Já estava pegando no sono de novo, quando o aparelho toca novamente. Irritado, resolvi atendê-lo. Era Ricardo, o baixista da minha ex-banda, quem ligava. Há anos não nos falávamos, pois eu estava morando na capital e depois de me mudar de Mauá, não voltei mais lá.
- Olá, Jonas! Há quanto tempo, hein!
- Pois é, digo o mesmo, velho amigo.

Conversamos um pouco sobre nossas vidas, ele continuava morando na mesma casa e levava a mesma vidinha pacata na oficina mecânica de seu pai. Depois que terminou o ensino médio não estudou mais. Namorava a Adriana, uma menina horrorosa, que estudou com a gente no ginásio. Quase não acreditei nisso. Falei-lhe sobre minha vida na faculdade de contabilidade e meu emprego no escritório, mesmo sabendo que ele não entendia muito dessas coisas. Mas estranhando aquela ligação após anos longe daquela cidade, perguntei em tom de gracejo:
- O que o faz ligar após tanto tempo? Alguma noticia especial?
- Nem sei como te dizer, cara. – e com sua voz calma como a de um padre – Elder morreu.
Não acreditei. Fiquei uns segundos mudo, até que ouvi a voz de Ricardo me chamando:
- Jonas!
- Quando foi? – perguntei incrédulo.
- Há três dias. Desculpe ter te informado só agora, mas é que você sumiu. Deu trabalho conseguir seu número de telefone. Quando puder, passe aqui, assim podemos conversar melhor.

Conversamos mais um pouco, porém ele teve que desligar o telefone, pois tinha que buscar a namorada na casa dela porque a prometera levá-la ao cinema naquele dia, e já estava atrasado. Pelo tom de sua voz, percebi que ela o dominava.
Elder foi meu amigo na infância e na adolescência. Gostava demais dele, nos divertíamos muito juntos. Nascera com uma voz maravilhosa, por isso era o vocalista da banda. Há tempos não o via e nem pensava nele. Fiquei aturdido com a noticia de sua morte. Pensei em ligar para sua casa, falar com sua mãe e saber se ela precisava de algo, afinal, ela sempre me tratou bem. Revirei minhas coisas a procura da minha agenda telefônica, mas não a achei, e meu celular era novo, não tinha o número dela. Sem pensar duas vezes, peguei meu carro e fui a Mauá. No caminho, através da janela, reparei na paisagem das cidades que iam passando e lembrei-me das andanças que fazia com meus amigos por essas regiões, quando éramos adolescentes.

Em uma hora cheguei a Mauá. Era verdade. Encontrei a mãe dele chorando no sofá. Abracei-a, dei-lhe os pêsames e me contive para não chorar na frente dela. Conversamos um pouco e ela me chamou para subir ao quarto onde o encontraram morto. Disse-me que se tivesse sido mais atenta, teria previsto aquilo.

O local estava intocado desde o ocorrido, ninguém havia mexido em nada. Era o mesmo lugar que nós usávamos para ensaiar as músicas de nossa banda. Os pôsteres de Elvis Presley, John Lennon e Jimmy Hendrix já estavam há quase duas décadas na parede. A guitarra em cima da cama, que ele batizou de Rock Piece, era a mesma que ele usava na banda. A única que ele usou sua vida toda, pois aquela lhe era especial. Chorei. Dona Estela passou a mão em minha cabeça e chorou também.

O telefone toca, ela vai atendê-lo. Ando desconsolado pelo quarto, revistando tudo. Vejo uma câmera de vídeo em cima da cômoda. Quando a pego na mão percebo que ela está ligada. Sempre fui curioso e naquela hora, aquilo despertou minha curiosidade. Pensei: “Por que a câmera está ligada?”.

Vasculhei-a. Tinha algo gravado. Apertei o play e quase tombei de susto. Vi Elder sentado na cama com uma garrafa de conhaque numa mão e um baseado enorme na outra. Ele deu um trago forte, duas goladas exageradas e disse:
- Olá! Se você está assistindo a essa gravação, então estou morto.
De repente ouvi os passos de Dona Estela na escada. Desliguei a câmera e meti-a embaixo da jaqueta, depois fiz o possível para disfarçar minha cara de espanto. Quando ela entrou no quarto, disse-lhe:
- Dona Estela, estou profundamente triste. Elder era meu amigo de infância, e também, o melhor que tive. Nunca mais haverá uma amizade como a nossa. – dramático, mas sincero – Vou-me embora, pois as lembranças que este quarto me traz, embora alegres, também são doloridas nesta hora.
- Tudo bem Jonas, compreendo. Vá e viva de maneira a não acabar como meu filho, mas volte de vez em quando para me visitar. Elder era filho único, por isso via em você o irmão que nunca teve. E eu sempre o tive como um segundo filho. - se ela soubesse que fui eu quem ofereceu a Elder o primeiro baseado, talvez não tivesse dito isso.

Despedi-me dela e saí com os olhos carregados de lágrimas. Estava a falar sozinho no caminho de volta pra casa, me perguntando por que aquilo acontecera. Daí senti um peso na jaqueta, me lembrei da câmera. Apressei-me, mas antes que chegasse em casa, passei num bar para tomar um conhaque e refletir sobre a vida.

Flávio Soares

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Uma velha inconformada

Era uma velha inconformada. Não suportava ver o tempo no espelho. Tinha os cabelos curtos e tingidos de um preto triste. As unhas pintadas de vermelho-vivo tentavam disfarçar a pele enrugada das trêmulas mãos.

Há dias estava trancada no quarto. Ninguém a convencia a sair. Nem atendia o telefone, pois lhe causava horror ouvir a própria voz, rouca e devagar como a de uma bruxa. Na penteadeira, em frente ao espelho quebrado, um retrato de décadas atrás. Os cabelos negros e compridos adornavam o rosto pálido de princesa medieval. O sorriso hipnótico dava a impressão que a fotografia era viva. Álvares de Azevedo, certamente, a faria mil poemas e morreria de amor por ela.

Passava as tardes na janela, se embriagando com vinho e observando as mocinhas passearem na rua. A cada uma que via, dizia a si mesma: “eu fui mais bonita”. No fundo, invejava-as. Fantasiava roubar-lhes os namorados e vê-las mortas de ciúmes. Às vezes esquecia sua idade e sonhava com os jovens que por ali passavam. “Com este eu me casaria”, pensava. Quando batiam à porta dizendo: “Vovó!”. O sonho virava pesadelo.

Os filhos, sempre ocupados, não tinham tempo para conversar com ela, por isso não notavam sua depressão. Se ao menos o marido estivesse ali para lhe fazer companhia. Sortudo, morreu aos trinta e cinco anos sem nenhum fio de cabelo branco. Quando o conheceu a família disse que ele parecia um galã de novela. Ainda guarda na memória a noite de núpcias, quando ele, feito poeta apaixonado, lhe chamava de deusa.

Após ficar viúva, penou para criar os quatro meninos. Trabalhava sem descanso. Arruinou sua saúde. Agora estavam casados, e ela uma idosa adoentada e solitária. Seu hobby era recordar a juventude. Convivia com a solidão e a velhice. Vagava pela casa a falar sozinha, ora maldizendo o mundo, ora evocando Alfredo, o finado esposo. Os familiares achavam normal isso, é a idade, diziam. Achavam-na caduca. Os netos tinham medo dela, não ousavam olhá-la.

Mas naquele dia, algo estava estranho. Ouviram-na rir, coisa que não fazia há tempos. Bateram na porta. Não atendeu. As risadas aumentaram. A senhora gargalhava alucinadamente. Julgaram-na louca. “Não devíamos deixá-la beber”, alertou um dos filhos. De repente a escutaram dizer: “Estou indo, Alfredo”. E fez-se um silêncio amedrontador.

Preocupados, arrombaram a porta. Jazia estirada no chão, maquiada e vestida em sua melhor roupa, como se fosse a um encontro. A expressão de seu rosto denotava uma satisfação inexplicável. Ao choro dos filhos que encheu o quarto de melancolia, só um retrato de uma sedutora jovem sorria.
Flávio Soares

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Vencer ou vencer

Quando meu pai enlouqueceu
o manto da noite o envolveu
sua cegueira só lhe permitia ver
o riso sádico dos espectros
que seguravam suas mãos
quando perambulava nas ruas
por isso ele ria mais alto
e melhor
porque ria sempre por último
pois não os temia.

Um dia, ele venceu a luta contra os espectros

Foi no verão,
pássaros gorjeavam um hino de guerra
e o sol lhe queimava
todo o mal que a Terra o fez.

Seu corpo voou contra a nave dos espectros
num golpe kamikaze.

Flávio Antunes Soares

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Grandes formigas

Magno era um homem que se achava conhecedor das coisas, não era graduado, mas lia bastante sobre vários tipos de assuntos e como já tinha uma certa idade, e tinha presenciado de tudo um pouco na vida, acreditava ser um sábio.

Em seu quintal havia um formigueiro e todos os dias um exército de formigas marchava em volta da casa a procura de suprimentos. Ele observava aquilo curioso e se perguntava por que elas trabalhavam tanto, e como podiam ser tão organizadas.

Até que um dia leu numa revista ecológica, a teoria de um biólogo, afirmando que os formicídeos não podem ver as pessoas, porque vivem num universo limitado. É como se os humanos fossem superiores a eles de tal forma que não consigam notar a presença do homem em volta deles.

Resolvendo tirar a prova, Magno foi ao quintal e quando viu as formigas em sua rotineira marcha pôs um pé no meio do carreiro. As pequeninas trabalhadoras passaram por cima dele e continuaram o caminho. Insistente, ele põe o outro pé, e para sua surpresa algumas caminhavam sobre ele ignorando sua gigantesca superioridade, e outras davam a volta continuando tranqüilas seu percurso.

Enraivado, o homem pisoteia dezenas delas. Mas não contente ainda chuta o formigueiro e se delicia com o desespero dos pequeninos seres. E para satisfazer sua onipotência em relação aos insolentes insetos, pega um balde d'água e joga no formigueiro provocando um dilúvio naquele mundinho. Após alguns minutos o mundo das formigas não existe mais. As mais resistentes ainda se contorcem no chão tentando sobreviver, mas Magno as esmaga com um dedo e vê-se satisfeito. Sentia-se um Deus assim. De repente, uma indagação lhe veio à mente.

Quem lhe garantiria que ele não era como as formigas, que andava pela Terra na sua vidinha humana, enquanto seres superiores cuja presença era incapaz de perceber observavam-no e se divertiam com suas ações esperando só pelo momento em que o esmagariam ou cuspiriam em sua cabeça?

Flávio Soares

terça-feira, 23 de setembro de 2008

O drama de um mentiroso

Menti com tanta fé em mim
que duvidei
da verdade que sabia
passei a viver a mentira
bebi dela intensamente
a verossimilhança de minha irrealidade
entorpeceu-me
de tal forma
que nem sei
em qual mentira
se perdeu minha verdade.
E no vício de enganar
a enganação dominou-me
foi minha droga irresistível.

Mundo
as únicas verdades que conheço
você
e meu reflexo no espelho.

Flávio Soares

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Ao poeta

Ao ler os versos que o poeta escreve
com uma indescrítivel perfeição
sou possuído por loucura breve
e sinto nisso a minha redenção.

O que ele faz, perfeito, me descreve
eu me comovo de adimiração
o meu humilde verso até se atreve
mas ai de mim, pois sou poeta não.

Só vivo lendo os belos versos dele
e como se eu mesmo os tivesse escrito
com a grandeza de se poetar.

Lendo seus versos me transformo nele
na empolgação de quando eu o recito
todas as noites de belo luar.

Flávio Soares

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Pensando maldade

Estão doentes os meus pensamentos
como um louco na cela atormentado
e sofre a mente em todos os momentos
me sinto de maldade envenenado.

Eu queria me livrar desses tormentos
com os quais o meu ser é castigado
já busquei nos falados livramentos
me salvar do que tem me perturbado.

Pois tenho na cabeça indagações
que podem preencher os sete mares
e vivem a seguir-me pelos ares.

Coisas malditas, são perturbações
canções do mal que nos meus olhos soam
mas eu não danço e sempre elas ressoam.

Flávio Soares

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Estátua-julgamento

A estátua na praça
do centro da cidade
está esquecida
quieta
no meio da agitação urbana
onde as pessoas correm apressadas
e ninguém se preocupa com nada.
Altiva em sua imobilidade
parece um juíz
observando e julgando
quem por ali passa.
Um pombo vem voando
baixinho e vagaroso
num vôo doentio
parece estar morrendo
ele acaba de passar
pelo julgamento da estátua.

Flávio Soares

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Falando de amor

É falando de amor que eu posso ver
o que se faz privilégio de poucos
e vivendo nisso posso entender
porque amando os homens ficam tão loucos.

Amor é um eterno desejar
uma força insana e imperecível
e que nos empurra sempre a lutar
para tornar o impossível possível.

Infinita e doce sublimidade
guardada no sonhado paraíso
que pode nascer da simplicidade
na graça dum verdadeiro sorriso.

Mas pra falar de amor sem ter amado
acho melhor que ninguém fale não
pois falará que eu sei, co'o desagrado
das almas tristes e sem coração.

Flávio Soares

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Liberdade

A liberdade é uma rua sem fim
onde bêbados na calçada
filosofam sobre o nada
pensamento que voa
na fumaça de um cigarro
vento no rosto
num dia de calor.
Caminhá-la é ser livre
de indagações e preocupações
é subir uma montanha
só pra depois descê-la correndo
como um cachorro que quebra a corrente.

Ah! Liberdade...

Flávio Soares

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Ode noturna

É meia-noite
sentado em frente ao computador
sob fortes doses de álcool
com insônia
eu poetizo
digito atormentado
pensamentos e sentimentos
que me perseguem,
é minha alma
triste como um dia chuvoso
de céu cinzento e vento frio
em que os beatniks
olham melancólicos pela janela
a chuva cair na terra
e esperam ansiosamente pelo sol
para que possam seguir sua rota
rumo a qualquer lugar.
De repente
o som estrondoso de um caminhão
um cachorro late ao longe
e um bêbado passa na rua
cantando Roberto Carlos
me perco do que pensava
vou à janela
olho pro céu
vejo a lua e as estrelas
e pela primeira vez em minha vida
presto atenção nelas
que diferença fazem pra mim
a lua e as estrelas?
Nenhuma.
Isso me inspira
volto a escrever
com compulsão
meus dedos nervosos
afundam com raiva as teclas
olho no relógio
são quatro horas da manhã
já não agüento mais
com muito esforço
chego ao final do poema
o último verso
que a cãibra não me deixou digitá-lo
mas que não me impediu de declamá-lo.
Depois, finalmente durmo.

Flávio Soares

terça-feira, 2 de setembro de 2008

A árvore e o vento

Quem remirá a árvore
tão tristonha em suas folhas
condenada a cumprir prisão perpétua
em pleno ar livre.
Pobre vegetal
plantado por uma malevolente mão
neste jardim do mundo.
Coitada dela
sempre está ali
balançando seus galhos
atirando-os no chão
numa frustrada tentativa
de chamar a atenção
mas ninguém a percebe.
E todos os dias
o despreocupado e andarilho vento
passa rindo alegremente
caçoando da árvore
bulindo nela e balançando-a
e a melancólica e desprezada árvore
impossibilitada
apenas lança suas folhas no ar
com o intuito de que o vento as carregue
num esperançoso sonho de liberdade.

Flávio Soares

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Umas velhas fotos ao lado do espelho

Velhas fotos do século passado
que quando vejo meu olhar falece
o espelho mostra como estou mudado
essa verdade muito me estristece.

Todos os dias tenho as contemplado
com a imagem que só me aborrece
odeio ver o que têm estampado
mirando o espelho meu ser padece.

Olha esta barba que onte' eu aparei!
Não acredito que este rosto é meu.
Em qual parte da vida ela crescia?

Esperai-me tempo e se esclarecei
pois eu não vi quando você correu.
Como não pude ver que envelhecia?

Flávio Soares

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Conversa no viaduto

Ela me disse que ia pular
porque sua vida era uma árvore
violentada pelo outono
e o mundo
uma arena mortal
falei das árvores que se renovam
após os ataques outonais
falei da fênix
mas seu olhar derrotado contou-me
que sua alma já se atirara
no abismo da depressão.

Chorou...
e pulou dando risada.

Flávio Soares

domingo, 24 de agosto de 2008

Tempo passado

Alguns dias eu recordo
o meu passado-sonhar
nesses dias eu acordo
mas não quero levantar.

A meu pensamento abordo
com nostalgia a lembrar
logo um sonho a este bordo
são minhas lembranças-mar.

O tempo quero romper
para então retroceder
e voltar pr'um certo dia.

Reviver qualquer momento
com inocente magia
e feliz contentamento.

Flávio Soares

sábado, 23 de agosto de 2008

Medo de votar

Tenho medo de votar
porque amanhã
ao sair de casa
posso ser assaltado
e como sou pobre e sem dinheiro
o assaltante se enfurecerá comigo
me matará com um tiro na cabeça
e não haverá polícia para me salvar.

Tenho medo de votar
porque amanhã
quando voltar do trabalho
posso ser atropelado
por um motorista bêbado
e não haverá hospitais
que possam me atender
e esperarei
ser socorrido
até morrer.

Tenho medo de votar
porque amanhã
posso ter um filho
que vai chegar à faculdade
mal sabendo ler e escrever
e ainda vai se achar
um tremendo doutor.
Tenho medo de votar
porque amanhã
posso ter uma filha
que no caminho da escola
será atacada por um maníaco
desses protegidos pela Constituição
e ainda dirão que ela provocou.
Tenho medo de votar
porque amanhã
quando estiver velho
não lembrarão do meu trabalho
morrerei desprezado
mesmo com toda a contribuição mensal
que dou ao meu país.

Eu
tenho medo de votar.
Flávio Soares

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

O homem do bar


Ele está lá todas as noites. Sai do trabalho e não pensa em ir a nenhum outro lugar. O proprietário conhece bem esse sujeito. Já tem até uma cadeira personalizada que o espera que nem esposa ansiosa, louca para sentir seu corpo sobre ela.

Quatro garrafas de cerveja, e só. Isso basta para passar a noite. Despreocupado, sorve lentamente, aquela que para ele, é a maior invenção humana. Cada gole é como se fosse o último, por isso bebe feito quem goza.

Está nessa rotina desde seu divórcio há três anos. Por ser freqüentador assíduo do local, ganhou algumas amizades que não faz questão de cultivá-las, mas às vezes, é necessário alguém para dividir a conta.

Após tanto tempo nesta vida, lhe parece normal isto, chegando a achar que está bêbado quando não ingere álcool. Durante o dia, pelo menos um conhaque é preciso para suportar a pressão do chefe e não se lembrar de coisa alguma.

Todo mundo tem suas fugas da realidade. Essa é a sua. Beber até não agüentar mais. Dos parentes, já não se lembra. Amigos, nenhum por perto. As pessoas que o vêem todas as noites na bebedeira, muitas nem sabem seu nome, apenas conhecem-no como o homem do bar, e discutem sobre o que arrastou-lhe a esta vida, imaginando os tristes fatos pelos quais ele pode ter passado. Poucos arriscam se aproximar dele, quem assim faz, é repelido por suas monossilábicas respostas. Com isso, preferem manter distância. De vez em quando, um mais envolvente, consegue cinco minutos de conversa, logo percebe que o pobre está sem dinheiro, e na tentativa de arrancar alguma informação se oferece para pagar uma bebida, mas nada consegue, então o abandona sozinho no fundo. Distante.

Ele gosta disso, ser visto de longe, não quer a aproximação de ninguém, pois precisa da reflexão que a solidão o empurra. Ser o homem do bar é sua única alegria, porque sabe que o tomam como uma história, passada de boca em boca pelo mundo afora.

Flávio Soares

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Refletindo

Penso num verso triste
sinto que vou chorar
não é poesia
somente a vida.

Flávio Soares

Lembrança de quem morreu

No aniversário da morte
daqueles que amei
nenhuma festa
só as lembranças me afagam
melancolicamente.

Minha saudade chora.

Flávio Soares

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Desencorajado

Não sou o herói forte e corajoso
das minhas brincadeiras de criança
contra os vilões, altivo e poderoso
lutava empunhando uma espada ou lança.

Sou só mais um pequeno cão medroso
que a vida afugentou-lhe a esperança
e se perdeu pelo mundo assombroso
tão fraco e frágil quanto uma criança.

E por lembrar do que me amedrontou
todos os dias minha mente pasma
é minha vida em forma de fantasma.

Vi que sou morto e isso me assustou
procurei Deus mas dele eu apanhei
por causa disto nunca mais sonhei.

Flávio Soares

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Um momento

Rolávamos na cama
como dois animais
furiosos numa luta
nos mordíamos ferozmente
e sem que nenhum dos dois
se rendesse
desmaiamos
ambos derrotados, triunfantes.

Naquele momento
estávamos felizes para sempre.

Flávio Soares

Os Toxic Twins

Os garotos eram desatinados. A culpa era do pai. Bebia e fumava maconha tranquilamente dentro de casa. Conforme cresceram, adquiriram esse hábito. Na adolescência conheceram o rock ‘n’ roll. Logo entraram num mundo inconseqüente. No quarto, pôsteres de Black Sabbath, Led Zeppelin e AC/DC. Duas guitarras. Cheiro de erva queimada por toda parte. Cerveja e cigarro em abundância.

À tarde, depois da escola, saia daquela residência, um som alto duma música agressiva. Os vizinhos que só conheciam pagode, forró e sertanejo enlouqueciam com o barulho, enquanto os dois loucos se divertiam. O local parecia que ia ser explodido com solos de guitarra seguidos duma forte bateria.

Nos finais de semana, esses irmãos se reuniam com seus amigos na garagem, fazendo uma tremenda rockonha. Sexo, drogas e rock ‘n’ roll. Beatniks livres. Aquilo era a road deles.

O tempo passou, os toxic twins envelheceram. Vieram as responsabilidades e a necessidade de trabalhar. Casaram, tiveram filhos. Mudaram de cidade. Ficaram barrigudos. Carecas. Muitas contas para pagar. Preocupações demais. A vida licenciosa teve que ser abandonada. Mas naquela vizinhança não há quem olhe para aquela casa, e não se lembre do rock selvagem, ecoando solto, quase pondo abaixo tudo ao redor.

Flávio Soares

Confusões mentais

Nas confusões mentais nas quais me vejo
com questões na cabeça a perturbar-me
respostas para a vida é o que almejo
envolto em cisma fico a questionar-me.

Por esclarecimentos eu pelejo,
pois quero explicações para acalmar-me
a loucura me diz: "Eu te cortejo"
não há explicações, vai dominar-me.

Será que o mundo todo é um brinquedo?
Uma história já determinada?
Um trabalho que não saiu perfeito?

Pensando nessas coisas sinto medo
imagem, semelhança... não são nada
por isso enxergo Deus como imperfeito.

Flávio Soares

Um jardim vivo

Leve
o jardim desfilava pela rua
um perfume primaveril
embriagava o momento
flores serpenteando
faziam soar
o som de harpas celestiais
e enfeitiçado
tal qual o marinheiro
que avistou uma sereia
um jardineiro poeta
se deleitava
com essa visão hipnótica.

Flávio Soares

Epitáfio para Charles Bukowski

Jaz aqui um velho safado
que sorveu do mundo
tudo que pode
poeta dos vagabundos
bebeu a vida pra fazer poesia
sua existência
foi o seu romance
álcool e mulheres
a paixão eterna.

Flávio Soares

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Vida-álcool

Assim é a vida
quanto mais se bebe dela
mais se quer viver.

Flávio Soares

Nostalgia

Me lembro de épocas tristes
rio
pois já se acabaram
recordo tempos felizes
choro
porque se passaram.

Flávio Soares

Dia de chuva

Tomba a chuva sobre a terra
incessante e débil.
Me sinto tão flébil.

Flávio Soares