segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Mente perigosa

E de repente foi assim
te vi de longe
e logo fiquei íntimo de ti.

Então atraí-a para meu castelo.

Você tentou escapar
mas imobilizei-a
como um predador
faz com sua presa.
Comecei
devorando tua boca.
Depois, devorei teus braços e seios.
Em seguida, devorei tua barriga,
pernas e coxas.
Por fim,
a última parte de teu corpo
pulsante e úmida
eu devorei.

Que coisa forte
é uma garrafa de vodca
numa noite solitária.

Flávio Antunes Soares

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Richard Brautigan e suas metáforas surrealistas






Richard Brautigan é, na opinião de muitos, o que se define como poeta marginal. Envolvido com o movimento Beatnik, Brautigan escreveu poemas com metáforas únicas. Sua escrita é carregada de originalidade e imagens surrealistas. Ele também é considerado por muitos um dos maiores poetas que surgiram nos Estados Unidos na segunda metade do século XX.

Abaixo, três poemas de Richard Brautigan:

Romeu e Julieta


Já que vai morrer por mim,
eu morrerei por você
e nossos túmulos serão como dois amantes lavando
suas roupas juntos
em uma lavanderia
se você trouxer o sabão
eu trarei o alvejante.




Romeo and Juliet
If you will die for me,
I will die for you
and our graves will be like two lovers washing
their clothes together
in a laundromat
If you will bring the soap 
   I will bring the bleach.





Descoberta

As pétalas da vagina abertas
como Cristóvão Colombo
tirando seus sapatos.


Existe algo mais bonito
do que a proa de um navio
tocando um novo mundo?


Discovery
The petals of the vagina unfold
like Christofer Columbus
taking off his shoes.


Is there anything more beautiful
than the bow of a ship
touching a new world?



Um poema bonito

Vou para a cama em Los Angeles pensando
em você.

Mijando, alguns momentos atrás,
eu olhei para o meu pênis
com carinho.

Sabendo que ele esteve dentro 
de ti duas vezes hoje faz com que eu
me sinta bonito.


The beautiful poem

I go to bed in Los Angeles thinking
about you.

Pissing a few moments ago
I looked down at my penis
affectionately.

Knowing it has been inside
you twice today makes me
feel beautiful.


Tradução dos poemas feita por Flávio Antunes Soares.

Os poemas no idioma original (inglês) e a foto foram encontrados no seguinte site:
http://www.americanpoems.com/poets/Richard-Brautigan


quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Elegia a Antônio V

Está chovendo há horas
e eu bebo vodca
na mesma proporção que a chuva cai...

Antônio dizia que a chuva
é o choro dos anjos
e que, de quando em quando,
Lúcifer ateia  fogo na Terra,
"É o que move a vida", afirmava ele.

Então
os querubins,
que sempre acreditaram
na redenção do irmão caído,
choram
para apagar o incêndio
antes que Deus perceba as chamas.
"É o que mantém o equilíbrio do universo",  explicava Antônio.

Há uma procela  em minha mente
não tenho mais fogo no coração...

Está chovendo há horas
e eu bebo vodca
na mesma proporção que a chuva cai...

Flávio Antunes Soares

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Poemeto do exílio - Sad in New York

Gosto do céu do Brasil
que é de um feliz azul.
In New York, quando tristes,
eles dizem: I am blue.

Flávio Antunes Soares

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Charles Bukowski, o franco-atirador das palavras




Charles Bukowski, o velho safado, é, ainda que alguns críticos contestem, um dos principais nomes da literatura norte-americana do século XX. Na opinião do filósofo francês Jean Paul-Sarte, ele foi o maior poeta da América.
 


Sem preocupação com a subjetividade, suas palavras são diretas como um míssil teleguiado. O autor, que nasceu na Alemanha, mas foi criado nos Estados Unidos, escreveu diversos livros nos gêneros contos, crônicas e romances. Misto-quente e Mulheres são considerados, por muitos, obras clássicas e estão, sem dúvida, entre os maiores livros escritos na segunda metade do século XX que merecem ser lidos.


Abaixo, está a tradução de um de seus poemas.




Um sorriso para se lembrar


Nós tínhamos peixes dourados que ficavam dando voltas
no aquário sobre a mesa próxima às cortinas pesadas
que cobriam a janela e
minha mãe, sempre sorrindo, querendo que todos
fossemos felizes, me dizia: "Seja feliz, Hank!"
e ela estava certa: é melhor ser feliz se você
pode
mas meu pai continuava a bater nela e em mim várias vezes por semana
enquanto
se enfurecia em seus 1m e 80 de altura, porque ele não conseguia
entender o que o estava atacando por dentro.


Minha mãe, pobre peixe, 
querendo ser feliz, espancada duas ou três vezes por
semana, me pedindo para ser feliz: "Hank, sorria!
Por que você nunca sorri?"


E então ela sorria, para me ensinar como era, e era o
sorriso mais triste que já vi.


Um dia os dourados morreram, todos os cinco,
eles boiaram na água, de lado, seus 
olhos ainda abertos,
e quando meu pai chegou em casa ele os atirou para o gato
lá no chão da cozinha e nós observávamos enquanto minha mãe
sorria.




Tradução de Flávio Antunes Soares





A smile to remember


we had goldfish and they circled around and around
in the bowl on the table near the heavy drapes
covering the picture window and
my mother, always smiling, wanting us all
to be happy, told me, "be happy Henry!"
and she was right: it's better to be happy if you
can
but my father continued to beat her and me several times a week
     while
raging inside his 6-foot-two frame because he couldn't
understand what was attacking him from within.



my mother, poor fish,
wanting to be happy, beaten two or three times a
week, telling me to be happy: "Henry, smile!
why don't you ever smile?"



and then she would smile, to show me how, and it was the
saddest smile I ever saw



one day the goldfish died, all five of them,
they floated on the water, on their sides, their
eyes still open,
and when my father got home he threw them to the cat
there on the kitchen floor and we watched as my mother
smiled



©2001 Linda Lee Bukowski
reprinted with permission of Black Sparrow Press


O poema original e a foto foram encontrados no seguinte site: bukowski.net

terça-feira, 5 de junho de 2012

Machado de Assis, o bruxo das palavras





Machado de Assis é, sem sombra de dúvida, um dos maiores escritores da literatura, não só brasileira, mas, também, mundial. Para quem já leu qualquer coisa dele, é desnecessário dizer o quão genial ele era.


Pode-se dizer que o bruxo do Cosme Velho, como assim o definiu Drummond, além de literato, era filósofo, historiador e psicólogo, pois tamanho era seu saber a cerca dessas áreas. Mesmo não frequentando regularmente a escola, o autor de Dom Casmurro conseguiu absorver, através da leitura de livros dos mais variados temas, o máximo de conhecimento que pôde.



Seus livros, além de proporcionarem infinito prazer cultural a quem os lê, contém verdadeiras aulas de língua portuguesa. Machado de Assis conhecia o idioma de Camões como ninguém mais no mundo. Era um mestre das palavras.


Portanto, para que fique claro seu talento ímpar com a escrita, aqui estão algumas citações de Dom Casmurro, um de seus mais famosos livros.

  • "Conhecia as regras do escrever, sem suspeitar as do amar, tinha orgias do latim e era virgem de mulheres."
- Capítulo XIV
  • "Não prometo vencer, mas lutar; trabalharei com alma."
- Capítulo XXVI
  • "Quantas intenções viciosas há assim que embarcam, a meio caminho, numa frase inocente e pura! Chega a fazer suspeitar que a mentira é tão involuntária como a transpiração."
- Capítulo XLI
  • "Há pessoas a quem as lágrimas não acodem logo nem nunca, diz-se que padecem mais que as outras."
- Capítulo LIII
  • "A vida é cheia de obrigações que a gente cumpre, por mais vontade que tenha de as infringir deslavadamente."
- Capítulo LXVI
  • "Ora, há só um modo de escrever a própria essência, é contá-la toda, o bem e o mal."
- Capítulo LXVIII
  • "...um dia uma ou duas virtudes medianas pagam todos os pecados grandes."
- Capítulo CXIV
  • "...a vaidade é um princípio de corrupção."
- Capítulo CXVII 
  • "...não é só o céu que dá as nossas virtudes, a timidez também, não contando o acaso, mas o acaso é um mero acidente; a melhor origem delas é o céu."
- Capítulo CXVIII

Fora esses trechos, há outras passagens no livro, que foram magistralmente escritas. O capítulo IX, intitulado "A ópera", é uma aula de filosofia em torno da existência humana. Quem já leu sabe do que se trata; aos que ainda não o leram, é recomendável que o façam.

Enfim, para os amantes da literatura, qualquer texto machadiano pode ser uma obra exímia.

Flávio Antunes Soares 

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Final triste

Minha garrafa de vodca está no fim
só me resta mais um gole.

Lá longe um cachorro late
ferindo o silêncio madrigal
como se o mundo fosse acabar.

Minha garrafa de vodca está no fim...

Flávio Antunes Soares

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Lançamento do meu livro "Garrafas quebradas"



No dia 20 desse mês, sexta-feira, às 19 horas, na biblioteca municipal de Mauá, haverá o lançamento do meu livro "Garrafas quebradas". Convido a todos para o evento. Haverá também a apresentação musical, com violão e voz, de Gideão Cardoso. Todos que comparecerem, se quiserem, terão a oportunidade de recitarem seus poemas. 

A biblioteca fica no piso térreo do Green Plaza shopping, em frente a estação de trem, na Rua Rio Branco, 85, Mauá, Sp.

Flávio Antunes Soares

quinta-feira, 1 de março de 2012

Muro transparente

Todos os dias
em seu uniforme laranja
ele varria as ruas
onde elas, desdenhosas, passeavam.

Ele nunca planejou varrer ruas
nem mesmo pediu pra nascer
isso simplesmente aconteceu
como alguém segue um caminho errado
sem saber por quê.

Todos os dias
os high heels delas passeavam
pelas ruas que ele varria.

Flávio Soares 

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Arrependimento

Que coisa mais estranha é esta vida
agora que tu foste, penso em ti.
Inquietação pulsante e dolorida.
Até sobre suicídio refleti.

Minha existência aos poucos dissolvida,
que, melancólico, eu comprometi,
pelo torpor do álcool absorvida,
tenta em vão esquecer do que senti.

Passo meus dias por aí penando
a imprecar contra a maldita sorte.
Não obtenho mais uma alegria.

Perto de mim, o Fim fica acenando
fazendo-me pensar em ver a morte
para atingir eterna letargia.

Flávio Antunes Soares