quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Conversando com Álvaro de Campos

"Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?"
Álvaro de Campos

Sabe, Álvaro
também nunca conheci
alguém que tivesse levado porrada
assim como você
estou cercado de campeões.

Oh! Mas que angústia
ver todos os olhos do mundo
me enxergarem tão vil
ao mesmo tempo que meus ouvidos se assombram
com as narrativas heróicas dos vencedores.

Diante dos semideuses
minhas infâmias se escondem no fundo de minha mente.
Que coisa mais vil!
Se esconde o demônio louco.
Se esconde o ladrão.
Se esconde o assassino.
Se esconde o egoísta.
Se esconde o ridículo.
Se esconde o anjo perverso.
Se esconde tudo o que pode haver de vil.

Por conta disto, Álvaro
também titubeio
ao falar com meus superiores
e me envergonho toda vez que ouço
suas vozes inumanas.

Flávio Soares


quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Pelas grades do cárcere

Lá fora os pássaros cantam
e as raparigas passeiam.

Cá dentro um pássaro chora...

Flávio Soares

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Dogs

Whenever a dog barks
one thinks it is nothing but a mere bark.
No one ever bears in mind that
the dog may be calling names
or saying things like:
"Hey, human! Get out of my way!
You are not better than me.
You are just another son of a bitch."

Flávio Soares

Note: People always ask me why I never write poems in English or in Spanish. I tell them that no matter how well you master a foreign language, things always cause more impact in our mother tongue. However, the idea of writing "Dogs" had been in my mind for a long time. At first, I wanted to write it in Portuguese and I even struggled to do that but the term "son of a bitch" does not cause the same impact in Portuguese. Therefore, I decided to write it in English so that the poem could be more meaningful. For those who can speak both languages, I guess it is quite a challenge to translate it into Portuguese. 

Nota: As pessoas sempre me perguntam por que nunca escrevo nada em inglês ou espanhol. Eu digo a elas que não importa o quanto você domine um idioma estrangeiro, as coisas sempre são mais impactantes em nossa língua materna. No entanto, a ideia de escrever "Dogs" ficou meses em minha cabeça. A princípio, quis escrevê-lo em português e até batalhei para fazer isso, mas o termo "son of a bitch" não tem o mesmo impacto para quem está acostumado a dizer outra coisa, que não citarei aqui. Portanto, decidi escrever este poema em inglês para que sua ideia fosse mais significativa. Creio, que para aqueles que falam ambas as línguas, é um desafio e tanto traduzi-lo para o português.

Flávio Soares

domingo, 6 de novembro de 2011

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

De fora

Oswald de Andrade tinha razão
só a antropofagia nos une
mas não quero um banquete
para filosofar a cerca da vida.

Sou um país inabitado.

Tudo em mim é solitário
poesia, filosofia, sexo...

Portanto
quedo só
a me consumir num copo de vodka
minha face refletida no álcool
desce goela a baixo
como uma cachoeira
e por um instante
sou completado comigo mesmo.

Flávio Soares 

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Terapia campestre

Acima,
céu azul-calma
a minha frente, o rio.
Longe da inquietude urbana,
reflito.

Flávio Soares

sexta-feira, 1 de julho de 2011

terça-feira, 14 de junho de 2011

Elegia a Antônio IV

"Ninguém precisa de nós", li num poema
isto me fez recordar nossas discussões
quando depreciávamos o velho
e exaltávamos o novo.

Pois é
que ironia, Antônio
hoje sou criticado.

Os expoentes de nossa geração
a exemplo dos de Ginsberg
caíram um a um
bêbados, loucos, esquecidos...

O mundo girou rápido
enquanto meu olhar enrugava.

Flávio Soares

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Sobre viver

Viver é uma noite de insônia
com fantasmas no quintal.
Algoz que tortura aos risos.
Cavalos sem dono correndo na praia.

Cem garrafas de vodka em cinquenta dias.
Cobras comendo maçãs.
Herói que se suicida.
Mil auroras por minuto.

Devorar o próprio coração.
Sentir o gosto do câncer.
A voz de Deus ecoando ao longe.
Um tiro na têmpora por dia
e o desejo desconhecido
de prosseguir.

Flávio Soares

terça-feira, 19 de abril de 2011

domingo, 13 de março de 2011

Elegia a Antônio III

Quando meu cão morreu
enterrei-o no quintal
Antônio compareceu
e enquanto eu jogava terra na cova
ele recitou um poema de sua autoria
cujo título era "Castelo de areia"
era muito tocante
falava da fragilidade de nossa existência.

Mais tarde, à mesa de um bar
Antônio me disse que a vida
é uma bomba
pronta para ser detonada
só não sabemos quando
a morte apertará o botão.

Então foi assim
num dia qualquer
Antônio explodiu
como dentes-de-leão ao vento.

Flávio Soares

domingo, 20 de fevereiro de 2011

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Politicamente correto X verdadeiro

Triste existência de quem nunca fala
por ter um pensamento diferente
quem vive se omitindo, quem se cala
temendo confusão com algum ente.

Também é infeliz o que propala
as coisas que trafegam pela mente
o que todo diálogo avassala
mostrando a qualquer um como se sente.

Nesse dilema de ser ou não ser
na luta entre o agrada e o desagrada
não se pode evitar os arreliados.

Haverá sempre alguém para dizer:
"Fulano é desprezível! Vale nada!"
No fim, terminam todos como errados.

Flávio Soares