Ele está lá todas as noites. Sai do trabalho e não pensa em ir a nenhum outro lugar. O proprietário conhece bem esse sujeito. Já tem até uma cadeira personalizada que o espera que nem esposa ansiosa, louca para sentir seu corpo sobre ela.
Quatro garrafas de cerveja, e só. Isso basta para passar a noite. Despreocupado, sorve lentamente, aquela que para ele, é a maior invenção humana. Cada gole é como se fosse o último, por isso bebe feito quem goza.
Está nessa rotina desde seu divórcio há três anos. Por ser freqüentador assíduo do local, ganhou algumas amizades que não faz questão de cultivá-las, mas às vezes, é necessário alguém para dividir a conta.
Após tanto tempo nesta vida, lhe parece normal isto, chegando a achar que está bêbado quando não ingere álcool. Durante o dia, pelo menos um conhaque é preciso para suportar a pressão do chefe e não se lembrar de coisa alguma.
Todo mundo tem suas fugas da realidade. Essa é a sua. Beber até não agüentar mais. Dos parentes, já não se lembra. Amigos, nenhum por perto. As pessoas que o vêem todas as noites na bebedeira, muitas nem sabem seu nome, apenas conhecem-no como o homem do bar, e discutem sobre o que arrastou-lhe a esta vida, imaginando os tristes fatos pelos quais ele pode ter passado. Poucos arriscam se aproximar dele, quem assim faz, é repelido por suas monossilábicas respostas. Com isso, preferem manter distância. De vez em quando, um mais envolvente, consegue cinco minutos de conversa, logo percebe que o pobre está sem dinheiro, e na tentativa de arrancar alguma informação se oferece para pagar uma bebida, mas nada consegue, então o abandona sozinho no fundo. Distante.
Ele gosta disso, ser visto de longe, não quer a aproximação de ninguém, pois precisa da reflexão que a solidão o empurra. Ser o homem do bar é sua única alegria, porque sabe que o tomam como uma história, passada de boca em boca pelo mundo afora.
Flávio Soares
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