quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Coisas do Brasil

Certa vez, no centro da cidade de São Paulo, num ponto de ônibus, alguns jovens estudantes de Engenharia, Direito e Administração conversavam alegremente. Enquanto esperavam a condução que os levaria ao destino desejado, discutiam assuntos de mídia. De repente, um senhor com aparência interiorana, trajando vestes incomuns nos centros urbanos, para próximo a eles.

— Olhem para este sujeito. – falou um engravatado – Parece um personagem do Ariano Suassuna.


Todos gargalharam descontroladamente, afinal, o figurino do homem era o de um cangaceiro, coisa que paulistas seguidores da moda estrangeira, estão desacostumados a ver. Então um dos jovens dirigiu-se ao senhor — esse que não estava entendendo o motivo de tanto riso — e com um tom de voz zombador:


— O senhor é da roça?


Novamente houve uma seqüência de gargalhadas que ridicularizaram o coitado. O homem franziu a testa e fitou a todos com um olhar vazio de quem já era habituado àquilo e, ajeitando o chapéu de couro que lembrava Virgulino, deu as costas aos jovens que não paravam de lhe zombar, mas antes de sair disse:


— Você fala da roça de onde sai o feijão que você come? Ela que é minha!


Os arrogantes universitários pasmados e boquiabertos diante de tal resposta, entreolharam-se atonitamente, mas nada falaram. Um deles ainda pensou em retrucar, não achou palavras.

Flávio Soares

2 comentários:

Anônimo disse...

... Nunca acham...

Thiago Almeida disse...

Ótimo recorte da realidade, Flávio!
Parabéns, cara!!!
Infelizmente, esta é a pura verdade. Muitos se esquecem da sua própria formação, negando suas origens. Mas, creio que o Brasil é o ÚNICO lugar do mundo, que o preconceito não faz nenhum sentido. Ratificando, lógico que o preconceito, em hipótese alguma, é justificável, mas, MENOS AINDA aqui, em nosso país vira-lata.