sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Efeito de alienação

Capítulo 2


A modernidade é impressionante. Há anos não pisava em Mauá, de repente em pouco mais de três horas, fui até lá, conversei com Dona Estela e voltei pra casa, graças a uma coisa chamada carro a motor. Se fosse no século dezenove, eu demoraria dias para fazer essa viagem a cavalo. Poderia ter visitado Ricardo, mas não me lembrei disso enquanto estava lá, nem reparei na cidade, pois abalado, a única coisa que queria era conferir a notícia do falecimento de meu amigo.

Entrei em casa correndo e liguei a câmera. Continuei de onde havia parado quando a desliguei. Elder começou a falar:
“Meu nome é Elder, e devido ao meu fanatismo pelo rock’n’roll todos que me conhecem me chamam de Elder Presley. Desde minha adolescência sempre sonhei em ser um rock star. Me envolvi demais com o movimento rockeiro. Tive até uma banda que acabou quando meu amigo Jonas resolveu ser responsável e se mudou para São Paulo a fim de estudar e trabalhar. Ainda me lembro das roconhas que fazíamos nos velhos tempos, éramos loucos.”

Ele parou de falar por uns minutos para tragar seu baseado. Fumou tudo numa tragada só. Depois virou a garrafa de conhaque e se levantou. Foi até a cômoda e pegou algo na gaveta. Era cocaína. Espalhou num prato e cheirou uma quantidade mortal. Daí abriu outro conhaque e continuou a falar, já com voz mole e de um jeito quase intraduzível:
“Meus amigos sempre me diziam para tomar cuidado senão eu acabaria como meus ídolos, morto com uma overdose. Nunca liguei pra isso, porque apesar de tudo sempre me cuidei, pois pretendia viver bastante. Eu pedia para não se preocuparem comigo que aquilo nunca aconteceria, até que conheci Raquel...”

De repente, deitou-se na cama. Pronunciou mais algumas palavras que não pude entender e uma convulsão o atacou. Foi horrível assistir aquilo. Durou cerca de cinco minutos. Depois seu corpo ficou paralisado por uns instantes. Pensei que tinha morrido, mas ainda pronunciou: “Raquel... Raquel... Raquel...”. A gravação continua por mais quinze minutos. E durante esse tempo ele não se mexe. Foi-se.

Fiquei chocado. Ele não morreu de overdose, se suicidou com uma overdose. Pensei um pouco. Conclui que não seria bom contar a respeito dessa gravação pra ninguém, principalmente para Dona Estela. Mas decidi que descobriria por que ele fez isso. E naquele momento uma pergunta me perturbava. Quem era Raquel? Resolvi descobrir. Parecia ser o motivo de tudo. Senti que voltaria a Mauá.

Flávio Soares

2 comentários:

Tatiane Garcia disse...

Bom dia !!!

Fiquei feliz por ter me colocado em seu blog...farei visitas ao seu para ler mais seus escritos...gosto muito do que leio lá no grupo de escritores ... vc tem talento !!!

Airton disse...

graças a uma coisa chamada trem....que eh bem confortavel neh shaushaushua oww vlw pela passada no meu
fanfarrao