terça-feira, 7 de julho de 2009

O segredo da vida

Passávamos nossas noites de sábado bebendo num bar. Eu com cerveja, ela com vinho. Enquanto aplacávamos nosso vício pelo álcool, discutíamos vários assuntos filosóficos, coisas de bêbado. Ela sempre colocava na jukebox "Canto para minha morte". Era sua canção favorita. Dizia sentir um êxtase ao ouvi-la.


Uma noite, a garota não apareceu. Em dois anos, era a primeira vez que não ia a meu encontro. A princípio, pensei em ligar, mas depois resolvi esperar alguns minutos. Pedi uma garrafa de cerveja e me sentei no nosso local preferido do bar, o canto. Após três garrafas, meu celular toca. Ouvi Raul Seixas a todo volume vindo do outro lado da linha.


- Você acredita em reencarnação? - reconheci a voz dela.


- Não.


- Eu acredito...


Em seu quarto, nua e estirada sobre a cama, ela se matava, sorvendo vinho envenenado, enquanto Raulzito cantava "Morte, morte, morte que talvez... Seja o segredo dessa vida". Seu corpo só seria encontrado no dia seguinte.


Creio que ouvi seu último suspiro pelo telefone. Embriagado e triste, coloquei sua canção predileta na jukebox durante a noite inteira.

Flávio Soares


Um comentário:

Carol Betella disse...

Obrigada pela visita e pelo comentário! Seja Bem-vindo sempre!
Muito interessante o teu blog! Gosto do ar sombrio.