sexta-feira, 13 de julho de 2012

Charles Bukowski, o franco-atirador das palavras




Charles Bukowski, o velho safado, é, ainda que alguns críticos contestem, um dos principais nomes da literatura norte-americana do século XX. Na opinião do filósofo francês Jean Paul-Sarte, ele foi o maior poeta da América.
 


Sem preocupação com a subjetividade, suas palavras são diretas como um míssil teleguiado. O autor, que nasceu na Alemanha, mas foi criado nos Estados Unidos, escreveu diversos livros nos gêneros contos, crônicas e romances. Misto-quente e Mulheres são considerados, por muitos, obras clássicas e estão, sem dúvida, entre os maiores livros escritos na segunda metade do século XX que merecem ser lidos.


Abaixo, está a tradução de um de seus poemas.




Um sorriso para se lembrar


Nós tínhamos peixes dourados que ficavam dando voltas
no aquário sobre a mesa próxima às cortinas pesadas
que cobriam a janela e
minha mãe, sempre sorrindo, querendo que todos
fossemos felizes, me dizia: "Seja feliz, Hank!"
e ela estava certa: é melhor ser feliz se você
pode
mas meu pai continuava a bater nela e em mim várias vezes por semana
enquanto
se enfurecia em seus 1m e 80 de altura, porque ele não conseguia
entender o que o estava atacando por dentro.


Minha mãe, pobre peixe, 
querendo ser feliz, espancada duas ou três vezes por
semana, me pedindo para ser feliz: "Hank, sorria!
Por que você nunca sorri?"


E então ela sorria, para me ensinar como era, e era o
sorriso mais triste que já vi.


Um dia os dourados morreram, todos os cinco,
eles boiaram na água, de lado, seus 
olhos ainda abertos,
e quando meu pai chegou em casa ele os atirou para o gato
lá no chão da cozinha e nós observávamos enquanto minha mãe
sorria.




Tradução de Flávio Antunes Soares





A smile to remember


we had goldfish and they circled around and around
in the bowl on the table near the heavy drapes
covering the picture window and
my mother, always smiling, wanting us all
to be happy, told me, "be happy Henry!"
and she was right: it's better to be happy if you
can
but my father continued to beat her and me several times a week
     while
raging inside his 6-foot-two frame because he couldn't
understand what was attacking him from within.



my mother, poor fish,
wanting to be happy, beaten two or three times a
week, telling me to be happy: "Henry, smile!
why don't you ever smile?"



and then she would smile, to show me how, and it was the
saddest smile I ever saw



one day the goldfish died, all five of them,
they floated on the water, on their sides, their
eyes still open,
and when my father got home he threw them to the cat
there on the kitchen floor and we watched as my mother
smiled



©2001 Linda Lee Bukowski
reprinted with permission of Black Sparrow Press


O poema original e a foto foram encontrados no seguinte site: bukowski.net