As aflições estavam piores a cada dia. O médico lhe disse que era por causa da sinusite, uma inflamação na mucosa que causa dores agudas na altura da testa e, em alguns casos, podia atingir o cérebro, afetando o estado psicológico de quem a tem. Isto explicava as perturbações mentais que vinha sofrendo e seu nariz constantemente escorrendo.
Sentado à mesa com dois amigos, Gilberto e Felipe, Murilo se embriagava. Qualquer garrafa de vinho ou cerveja é mais barata que os antibióticos receitados pelo doutor. Por isso, mesmo sabendo que no dia seguinte as terríveis pontadas na cabeça seriam mais dolorosas, ele bebia.
—Porra, Murilo! Pare de passar essa faca na mesa, cara. Está me irritando. —falou Gilberto.
—Ele parece estranho hoje. — observou Felipe.
Eles não sabiam do problema dele.
Com a mente preocupada pela doença, o rapaz continuou a manusear a faca, diante dos olhares curiosos dos outros dois. Seu nariz escorria, mas ele não o assoava. Não se importava mais com isso.
—Cara, que nojo! Por que você não limpa isso? — perguntou um deles.
Murilo não respondeu. Desde que chegara ali, não havia falado nada. Estava quieto, em estado de reflexão profunda.
—Vou buscar mais cerveja. — disse Felipe, se levantando.
De repente, um berro e o barulho de alguém tombando. Felipe que voltava com uma garrafa em cada mão cruzou com Murilo. “Aonde vai?”, perguntou. Nenhuma resposta. Quando chegou ao local onde bebiam encontrou Gilberto caído no chão, esfaqueado.
Flávio Soares