Garrafa de vinho tinto
quando posa sobre a mesa
tem um charme feminino
torna poética a lua
o álcool, encantamento
possui efeito maligno
feitiço de mulher nua.
Flávio Soares
sábado, 31 de janeiro de 2009
sexta-feira, 16 de janeiro de 2009
Receita para ficar calmo
Um litro de vodca
um piano tocando Beethoven
o poema predileto.
Flávio Soares
um piano tocando Beethoven
o poema predileto.
Flávio Soares
terça-feira, 6 de janeiro de 2009
Leão
Eu tinha um cachorro
que nunca latia
seu nome era Leão
vivia acorrentado no pé da escada
mesmo quando um gato
passeava pelo muro do quintal
a provocá-lo
ele não fazia nada
eu ficava sempre na expectativa
de ouvir um rugido
que afugentasse o universo.
Todos os dias
quando meu pai
(nordestino derrotado em São Paulo)
voltava bêbado do bar
Leão ia ao seu encontro
com as orelhas em pé e o rabo abanando
papai batia-lhe feito Deus a castigar o mundo
eu sempre interferia e apanhava também
o cãozinho colocava o rabo entre as pernas
e se recolhia triste pra debaixo da escada
enquanto eu ia chorar no banheiro.
Num sábado de sol
soltei o cão na rua
ele correu por todos os lados, feliz
tentei acompanhá-lo, não consegui
até que sumiu numa curva e perdi-o de vista
minutos depois ouvi ganidos
um ônibus o atropelara
quebrando-lhe duas patas
e esmagando-lhe as costelas
estirado no chão
ele não conseguia se mexer
um rio rubro minava de sua boca
seus olhos me diziam algo
que não compreendi
alguns cães uivavam ao seu redor
as pessoas passavam com indiferença.
Meu pai apareceu com uma pá na mão
tinha o semblante infeliz
era verão
o sol brilhava com encanto
meu pai ergueu a pá no ar
como um carrasco ergue o machado
pássaros passaram cantando
o mundo se calou
o vento murmurou uma prece
um minuto de silêncio
veio o golpe de misericórdia
sinos badalaram numa igreja ao longe.
Pela primeira vez
não interferi.
À noite
não pude dormir
urros medonhos
estremeciam o céu.
Flávio Soares
que nunca latia
seu nome era Leão
vivia acorrentado no pé da escada
mesmo quando um gato
passeava pelo muro do quintal
a provocá-lo
ele não fazia nada
eu ficava sempre na expectativa
de ouvir um rugido
que afugentasse o universo.
Todos os dias
quando meu pai
(nordestino derrotado em São Paulo)
voltava bêbado do bar
Leão ia ao seu encontro
com as orelhas em pé e o rabo abanando
papai batia-lhe feito Deus a castigar o mundo
eu sempre interferia e apanhava também
o cãozinho colocava o rabo entre as pernas
e se recolhia triste pra debaixo da escada
enquanto eu ia chorar no banheiro.
Num sábado de sol
soltei o cão na rua
ele correu por todos os lados, feliz
tentei acompanhá-lo, não consegui
até que sumiu numa curva e perdi-o de vista
minutos depois ouvi ganidos
um ônibus o atropelara
quebrando-lhe duas patas
e esmagando-lhe as costelas
estirado no chão
ele não conseguia se mexer
um rio rubro minava de sua boca
seus olhos me diziam algo
que não compreendi
alguns cães uivavam ao seu redor
as pessoas passavam com indiferença.
Meu pai apareceu com uma pá na mão
tinha o semblante infeliz
era verão
o sol brilhava com encanto
meu pai ergueu a pá no ar
como um carrasco ergue o machado
pássaros passaram cantando
o mundo se calou
o vento murmurou uma prece
um minuto de silêncio
veio o golpe de misericórdia
sinos badalaram numa igreja ao longe.
Pela primeira vez
não interferi.
À noite
não pude dormir
urros medonhos
estremeciam o céu.
Flávio Soares
segunda-feira, 5 de janeiro de 2009
Estranhamento
Contemplei por tanto tempo o espelho
que minha visão transpassou o vidro
meu mundo virou a imagem.
Com horror
meu reflexo me olhava
lágrimas arranhavam a polidez
perguntei-lhe quem eu era
não me disse nada.
O silêncio amordaçou
todas as respostas.
Flávio Soares
que minha visão transpassou o vidro
meu mundo virou a imagem.
Com horror
meu reflexo me olhava
lágrimas arranhavam a polidez
perguntei-lhe quem eu era
não me disse nada.
O silêncio amordaçou
todas as respostas.
Flávio Soares
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